Nos últimos meses (março, abril) consegui
observar que, especialmente no final do dia, me alimentava mal e que me
apeteciam alimentos pouco saudáveis e ricos em sal, como por exemplo batatas
fritas. Resolvi parar e investigar o que estava a acontecer com a minha
alimentação e foi fácil perceber que estes meus hábitos não coincidiam com o
estilo de vida a que me propus nem com a forma equilibrada com que desejo estar
no meu dia a dia.
Assim, por iniciativa própria, resolvi
iniciar, no dia 14 de maio, um regime que apelidei de Alimentação Consciente e
que durou 40 dias. Não foi uma dieta, pois a minha intenção não foi emagrecer,
mas sim nutrir o meu corpo da melhor forma, escutando as suas verdadeiras
necessidades e não cedendo a impulsos ou desejos infundados. Para este regime
baseei-me no Mindful Eating.
Este conceito junta Mindfulness e
comida e centra-se nas escolhas que fazemos para nos alimentarmos. A palavra escolha é fundamental, pois ao longo
destes 40 dias pude aperceber-me de várias situações que estavam a contribuir
para o meu comportamento e uma delas foi, sem dúvida, a impulsividade, que
surgia especialmente quando estava com fome.
Desta forma optei por algumas
estratégias, que vieram a revelar-se muito eficientes e facilitadoras destas
minhas intenções – perceber o que me faz
sentir bem e cuidar do meu corpo de forma mais atenta, sentindo e respondendo
aos sinais que ele me dá e que passo a enumerar:
ü Partilhar publicamente e com as pessoas à minha volta (família) as minhas intenções: desta forma
passou a existir uma espécie de compromisso conjunto e nos momentos de maior
tentação (festas, almoços convívio…) foi mais fácil manter o que me propus
porque a minha família e amigos reforçavam as minhas intenções;
ü Perceber quando é que tinha fome e
que sensações sentia no meu corpo: ao fazer esta observação entendi que no
geral comia muito mais do que realmente necessitava e senti-me bem ao lidar com
a sensação de fome, na medida em que me permitiu antecipar alguns comportamentos
que tinha sob o seu efeito;
ü Ir às compras sem fome: a tendência
para trazer produtos processados e não saudáveis é sem dúvida muito maior
quando estou com fome;
ü Ter sempre uma garrafa de água
comigo: para além de hidratar, também foi bastante útil quando começava a
sentir fome;
ü Ter sempre um snack SOS para quando saía de casa, como por
exemplo uma maçã ou frutos secos, pois assim quando sentia o desejo de comer ficava
mais fácil resistir a alimentos processados;
ü Lavar sempre os dentes imediatamente
após as refeições: apercebi-me que não voltava a comer nada após esta rotina de
higiene o que permitiu acabar com o petiscar após as refeições, principalmente
o jantar;
ü Comer com calma, sentada e mastigando
muito bem (cheguei a contar até 30 enquanto mastigava antes de engolir);
ü Entregar-me verdadeiramente ao
momento dedicado à refeição: sentir o sabor, a textura, observar a cor e sentir
o cheiro dos alimentos.
Consoante os dias foram passando,
comecei a olhar para as refeições como momentos especiais e comecei a
aperceber-me da necessidade de estar totalmente consciente do que estava a
colocar dentro do meu corpo, observando como estava a comer e o porquê de o
estar a fazer. Compreendi que quando estava a comer devia estar realmente a comer
e não ao telefone, a ler ou a aproveitar para ver as redes sociais, pois ao
fazer isto observei que era muito fácil entrar no piloto automático e perder completamente
a noção do que estava a fazer – comer para me cuidar e me nutrir ao máximo em
vez de devorar ou comer simplesmente para sobreviver.
Algumas rotinas e alimentos base
destes 40 dias foram:
ü Simplificar ao máximo;
ü Começar o dia com água morna com
limão (algo que já fazia há bastante tempo);
ü Meditar meia hora;
ü Ter um ótimo pequeno almoço (a minha
refeição preferida) com batidos verdes, papas de arroz e maçã, pudins de chia,
papas de trigo sarraceno, ovos mexidos em tosta de arroz, fruta, granola, papas
de aveia…
ü Fazer um lanche a meio da manhã com
puré de maçã, cardamomo e canela ou frutos secos ou uma fatia de queijo ou um
iogurte...
ü Almoçar proteína com legumes ou
salada;
ü Ao longo do dia beber 1,5 a 3 litros
de água simples ou aromatizada com casca de limão e hortelã ou casca de limão e
morangos ou alecrim…
ü Lanchar um iogurte, tremoços, fruta
ou um batido de fruta e legumes;
ü Jantar uma salada ou um prato de
fruta no mínimo duas horas antes de me deitar;
ü Beber alguns chás (matcha de manhã ou
uma infusão à noite);
ü Beber um copo de água antes de
dormir.
Este desafio a que me propus fez-me
também refletir e analisar com maior clareza a facilidade de acesso que temos a
produtos processados e nutricionalmente muito pobres. Estes produtos têm na sua
maioria preços bastante aliciantes e são de consumo fácil e rápido. Os
supermercados e a indústria também contribuem para este lobby. Estão constantemente a bombardear-nos com publicidade e
promoções bastante apelativas, num conjunto de produtos, por vezes até
selecionados semanalmente, que incidem fortemente neste conjunto de alimentos,
muito pouco ou até nada saudáveis. Logo, é muito importante estarmos conscientes
das nossas necessidades nutricionais e da nossa família logo no momento de
compra dos alimentos que trazemos para casa. É aqui que a escolha começa!
Se para nós adultos por vezes é
difícil fazermos escolhas alimentares conscientes, imaginem para as nossas
crianças e principalmente para os nossos adolescentes, que já são muitas vezes autónomos
nas suas escolhas e compras. Por
conseguinte, é fundamental que, desde pequenos, tenham em casa exemplos de uma
boa base de alimentação saudável, mesmo que às vezes até sejam pouco
cooperantes (por exemplo a Di recusa-se a beber sumos verdes) mas desde pequena
que todas as suas refeições incluem legumes. Esta educação alimentar permite às
crianças e jovens irem ganhando capacidade de escolha e literacia na saúde e
alimentação, de forma a que se tornem capazes de fazerem, sozinhos, boas
escolhas alimentares. Acima de tudo que compreendam a necessidade de terem uma
boa alimentação que lhes permita um desenvolvimento saudável e feliz do seu
corpo e mente.
Confesso que estes 40 dias foram bem
mais fáceis do que eu pensava até porque maioritariamente já tinha uma boa alimentação,
mas apercebi-me de como facilmente nos podemos deixar enveredar por uma alimentação
menos saudável. Para isso muito contribui não só a forma como estamos
emocionalmente, mas também o ritmo alucinante a que muitas vezes andamos.
Destes 40 dias fica o lema less is more e alguns hábitos, comer
menos e melhor, optar por produtos preferencialmente da estação, biológicos e
não processados, reduzir o consumo de carne e peixe e evitar gorduras e
açúcares. Fica também a descoberta de receitas diferentes e novos ingredientes
como: germinados, alguns super alimentos e algas.
Comer de forma Mindful, rodear-me de pessoas
que tenham intenções semelhantes a nível alimentar e poder mostrar à Di a
importância da alimentação enquanto elemento promotor de saúde, equilíbrio,
felicidade e bem-estar são sem dúvida fatores que quero ter presentes na minha
vida, não por 40 dias mas pelo menos por mais 40 anos.
Que a sua família também possa praticar Mindful eating!
Até já!