Quem “controla” o comportamento, na sala de aula?
segunda-feira, setembro 19, 2016
— Quem “controla” o meu
comportamento?
A resposta é bastante óbvia.
Assim sendo, e pensando numa Educação Consciente comecei por refletir por que
razão insistia em querer controlar os meus alunos em vez de os ajudar a gerir
os seus comportamentos. Assim, depois de já ter andado a amadurecer esta ideia,
eis que me enchi de coragem e, a meio do ano letivo transato, resolvi tirar o
mapa dos comportamentos da minha sala.
O que partilho a seguir foi
muito importante para mim e para as crianças que acompanho e ajudo a crescer no
dia a dia.
Como é costume, às 8h45
estava na sala de aula com alguns alunos e às 9h00 estava pronta para começar.
Apesar de determinada a tirar o mapa dos comportamentos, confesso que olhei para
ele algumas vezes com nostalgia e incerteza, mas a minha determinação não me
deixou voltar atrás.
Em vez de começarmos o dia com a escrita do
habitual plano do dia, pedi aos meus alunos para nos sentarmos em roda na sala,
como tantas vezes fazemos e partilhei com eles esta minha vontade. Falámos e
decidimos que todos iriam dar a sua opinião sobre a retirada do mapa de
comportamentos. E assim foi. Dois alunos preferiram não opinar, dizendo “passo”, todos os outros com
grande satisfação diziam que concordavam e sentiam que devíamos retirar o mapa
dos comportamentos. Portanto saí do círculo, fui buscar o mapa dos
comportamentos e coloquei-o no meio da roda. Juntamente, sentimos que nos
queríamos despedir desta ferramenta que nos tinha acompanhado, a eles alunos,
quase dois anos e a mim desde que me lembro de ser professora. E já lá vão
quase onze anos de profissão! Por isso, agradecemos ao mapa o papel que tinha
tido nas nossas vidas e “dissemos-lhe” que agora estávamos TODOS num ponto de
viragem e que ele já não fazia sentido nas nossas vidas. Espontaneamente, todas
as crianças colocaram as suas pequenas mãozinhas em cima do mapa e começaram a
retirar a mola que continha o seu nome pedindo para ficar com ela. Considerei
que não devia interferir. Disse que sim, e cada uma delas foi até ao seu lugar
colocar a molinha. Quando regressaram ao círculo, a ALEGRIA era enorme e a
CONFUSÃO também. Existiam dúvidas e ao mesmo tempo manifestações de afetividade
tão genuínas e espontâneas que eu nunca poderia ter imaginado nas várias vezes
que já tinha pensado em retirar o mapa.
As dúvidas consistiam em
saber como diriam agora aos pais como era o seu comportamento e como
funcionaria a sala sem mapa. As perguntas que surgiam por parte dos alunos eram
as seguintes: Poderia fazer-se tudo o que se queria sem consequências? E o que
aconteceria a quem se “portava mal”? Como funcionaria a sala sem regras?
Respondi calmamente e com
tranquilidade que diriam aos pais com AUTENTICIDADE exatamente como tinha sido
o seu comportamento. Afinal, agora os pais iriam saber muito mais do que apenas
uma bolinha, reforçou perspicazmente um dos alunos. Quanto ao funcionamento da
sala, esta iria continuar a funcionar normalmente, com LIMITES, os meus e os
deles, ou seja, os nossos e as consequências seriam naturais. Haveria ainda mais
diálogos, pois sem o mapa já não seria só a professora a ter o poder, teríamos
IGUAL VALOR, também na gestão dos comportamentos, pois em vez de ser a
professora a “controlar” os alunos, somos nós que devemos ser capazes de fazer
a regulação do nosso próprio comportamento, disse um aluno.
Quanto a mim, estava
impressionada com a maturidade destas crianças de 7 anos que diziam que os pais
também se portavam bem e que nos seus trabalhos nenhum deles tinha mapa de
comportamentos. Ri-me, RESPIREI e senti-me FELIZ por poder contribuir por fazer
dos meus alunos CRIANÇAS MAIS FELIZES.
Muitos disseram que eu era a melhor professora
do mundo, outros agarravam-se a mim, beijando-me e abraçando-me. Naquele
momento senti que, com este pequeno grande gesto, eu era sem dúvida a melhor
professora do mundo para os meus alunos e estava a transmitir-lhes exatamente o
que queria: RESPEITO e AMOR por cada um deles. O mapa representava muito mais
do que eu pensava. A nossa sala transpirava LIBERDADE e crianças que até ao
momento se mostravam sempre muito contidas e com pouca expressividade
emocional, abraçavam-se umas às outras, riam e falavam.
Depois deste momento,
contei a história o “Monstro das Cores” um livro que fala sobre EMOÇÕES e
decidimos que iríamos implementar na sala um Projeto de Literacia Emocional
onde aprendêssemos a descobrir como nos sentíamos. Os alunos mostraram-se
bastante motivados e eu pensei que, ao promover a descoberta de sentimentos e
emoções, iria promover maior CONEXÃO e aprendizagens mais significativas, onde seriam
contempladas NECESSIDADES por detrás de comportamentos, o que me permitiria um
olhar uma visão mais abrangente e, consequentemente, a descoberta de cada
criança na sua plenitude. E é exatamente o que tem acontecido. Este projeto de
Literacia Emocional tem permitido conhecermo-nos verdadeiramente, expressando
sentimentos emoções e formas de lidar com elas.
Este ano não vamos
retroceder, por isso começámos já sem reguladores externos. Já noto diferença
na forma como os meus alunos gerem os seus comportamentos, e eu estou sempre presente
para facilitar este processo, caso seja necessário.
Não sei o que irá
acontecer daqui para a frente, mas acredito que tirar o mapa dos comportamentos
foi uma opção que me fez sair da minha zona de conforto e entrar no
desconhecido. Foi uma escolha que me permitiu também perceber que há outras
alternativas, que a curto prazo podem ser mais trabalhosas, mais exigentes, mas
vão também ser janelas de oportunidade onde a CRIATIVIDADE e o DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL
E CONJUNTO vão poder crescer permitindo a construção de uma sala de aula
democrática onde todos têm a possibilidade de aumentar a sua AUTO-ESTIMA e
RESPONSABILIDADE PESSOAL, bem como adquirirem um maior autocontrolo, terem a
capacidade de intervir ativamente na criação de regras partilhadas e de terem
um maior autoconhecimento de si próprios.
Nada é perfeito e vamos ver como esta aventura
corre. Abriu-se um novo capítulo na minha vida e na dos meus alunos e, seja
qual for o desfecho deste capítulo, uma coisa é certa: saímos da ZONA DE
CONFORTO para podermos caminhar na direção da ZONA DAS COISAS ESPETACULARES.
Até já!
2 comentários
Obrigado por me ajudar a dar à minha filha a capacidade de ser um ser humano equilibrado, auto-confiante e sobretudo muito feliz. Tivemos a sorte de encontrar a melhor professora que podíamos desejar!
ResponderEliminarMuito grata pelas suas palavras. Sinto-me abençoada por encontrar pais que me ajudam e apoiam na minha missão: fazer dos seus filhos crianças mais felizes e alunos mais motivados. Espero que nos continue a seguir!😊 Até já. ❤
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