Os pais podem e devem sentir

segunda-feira, setembro 26, 2016





Já ouvi de muitos pais, por diversas vezes, que estavam angustiados, tensos, cansados, tristes… mas que orgulhosamente me disseram que, à frente dos seus filhos, tinham “disfarçado” os seus sentimentos, tentando de tudo para que de nenhuma forma eles se apercebessem de como verdadeiramente se sentiam e que tinham tido sucesso. Pelo menos, tentavam convencer-se de que o tinham conseguido. Mas, não.
As crianças são muito perspicazes a descodificar o que se passa à sua volta, pois desde que nascem que estão constantemente a analisar sinais não-verbais (tom de voz, postura, expressão do rosto, ritmos do discurso) o que as torna bastante competentes nesta descodificação. Por conseguinte, em caso de incongruência entre o que estamos a dizer e o que estamos a transmitir por mensagens não-verbais, estas últimas vão prevalecer. O que a criança percecionar do que se passa à sua volta vai também dar-lhe informações sobre o que se passa dentro de si, o que por sua vez vai fazer com que decida se se encontra numa situação de segurança ou não, e responda de acordo com essa mesma situação.
Na Parentalidade Consciente um dos valores base é a AUTENTICIDADE. No que descrevi anteriormente, está a ser-se tudo menos autêntico. Ou seja, a criança apercebe-se que, o que a linguagem verbal afirma é diferente daquilo que o tom de voz e a linguagem não-verbal revelam, e mesmo assim o adulto continua a dizer-lhe que está tudo bem. Como é compreensível isto vai causar uma grande confusão na criança, visto que o adulto está a contradizer aquilo que ela perceciona transmitindo-lhe insegurança. Uma vez que o adulto é como um guia para a criança, se lhe transmitir muitas vezes mensagens contraditórias, esta poderá duvidar da sua capacidade de interpretação, o que colocará em causa a relação que estabelece consigo própria e com os outros.
Ao contrário do que muitos pais pensam, que o melhor é proteger os filhos de toda a dor/sofrimento, sabe-se que para que uma criança se desenvolva de forma saudável é muito importante que tenha na sua vida momentos de harmonia e momentos de conflito e perceba que são momentos distintos. Se nós adultos lhes demonstrarmos que são iguais só os estamos a prejudicar. A criança deve saber reconhecer estes estados e aprender a lidar com eles. É fundamental darmos espaço para uma criança chorar e para conviver com a sua frustração para depois poder finalmente relaxar e voltar a um estado de equilíbrio.
Se queremos fomentar ambientes seguros onde os nossos filhos se expressem e cresçam de forma saudável não podemos ter medo de SENTIR, mesmo as emoções que nos vulnerabilizam, para que eles próprios também aprendam a interpretar o que está a acontecer no seu interior e consigam dizer-nos como se sentem. Só assim os poderemos ajudar a lidar e a ultrapassar estes estados.
Aceitarmos quando estamos sem paciência, tristes, cansados, ansiosos ou inseguros não nos faz maus pais, nem pais fracos, como muitas vezes nos classificamos ou julgamos. Faz-nos sim, melhores pais. Pais autênticos que se mostram tal como são, sem “máscaras” e que estão disponíveis para dar à criança o que ela mais precisa: amor, presença e apoio. As crianças, ao sentirem e ao perceberem que os seus pais são “humanos”, permitem que mais rapidamente seja criada uma ponte para o seu coração. Esta autenticidade vai possibilitar que os seus filhos percebam que existe abertura para serem ouvidos, entendidos e respeitados tal como eles são, estabelecendo-se assim um caminho direto para a conexão.
As crianças aprendem por imitação e nós somos o seu “espelho”. Se nos virem a chorar e dissermos que está tudo bem a criança vai aprender que está tudo bem quando se chora, o que pode não ser verdade. As crianças aprendem o que vivenciam. Se as crianças vivenciam autenticidade aprendem a ser autênticas.
Enquanto pais, é fundamental permitirmo-nos sentir e sermos autênticos, para que os nossos filhos também o possam ser, ajudando-os num crescimento emocional equilibrado.

 Até já!

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