Até já Francisco Varatojo!

quarta-feira, julho 12, 2017


Nunca gostei de despedidas e a realidade é que, quando digo “até já”, mudo a perspetiva e parece que me sinto melhor, tornando a situação mais fácil. Por isso, é assim que resolvi despedir-me desta pessoa encantadora com a qual a nossa família teve o privilégio de se cruzar nesta vida.
A mesma pessoa que nos apresentou o Francisco foi também aquela que nos deu pessoalmente a notícia do seu desaparecimento, a boadrasta (nunca gostei da palavra madrasta e por isso faço este trocadilho boa + drasta = boadrasta) da Di, a Joana, aluna do Francisco e seguidora deste tipo de alimentação. Fiquei de imediato com um sentimento de tristeza, de perda e até de negação.  Não queria acreditar que este ser humano absolutamente inspirador, de um dia para o outro, sem aviso prévio estava desaparecido no mar.
Conhecemos o Francisco Varatojo devido a uma situação de saúde da Di que aproveito para partilhar – doença celíaca. Depois de várias abordagens e de consultas com diversos nutricionistas que pouco ou nada nos ajudaram, fomos a uma consulta com o Francisco.
 Assim que entrámos no Instituto Macrobiótico, fomos logo recebidos com o seu sorriso contagiante e o seu humor. Afinal, não é todos os dias que se recebe uma família moderna que naquele dia era composta pela Di, por mim, pelo pai e pela boadrasta da Di. Ambas nos chamamos Joana, o que deu logo motivo para brincadeira, por parte do Francisco, com o pai da Di e resultou em risada conjunta. Em poucos minutos parecia que o Francisco nos conhecia a todos há muito tempo e o caráter formal de consultas de nutrição que tínhamos tido em experiências anteriores aqui não teve espaço. O Francisco empatizou com a Di com uma naturalidade impressionante e ela com ele. Confesso que a Di nem sempre tem uma postura muito cooperante nestas situações. Por exemplo, houve uma consulta em que tivemos de “fugir”, visto que a nutricionista esteve uma hora a debater que a Di tinha que comer kiwi, enquanto ela dizia que não ia comer e não passávamos daqui. Talvez por isso, a Di tenha começado a ter uma postura de maior resistência a consultas de nutrição e ter ido para a consulta do Francisco bem determinada a não fazer nada do que fosse recomendado. Como se costuma dizer, saiu-lhe o tiro pela culatra!
Cada ingrediente e receita que o Francisco nos sugeria, provocava na Di mais curiosidade, admiração e divertimento. Ela queria saber tudo, principalmente o que envolvesse ingredientes japoneses. A Di adora sushi e percebemos que o Francisco também não lhe ficava atrás. Falámos de restaurantes japoneses e de uma iguaria muito apreciada pelo Francisco, o natto (feijão de soja fermentado) que recomendou de imediato à Di, entendendo os seus gostos bem peculiares. Falámos também das propriedades de várias algas japonesas, entre elas a wakamé e a kombu, da ameixa Umeboshi (pickles de ameixa com propriedades medicinais) e também da sopa de Kuzu (raiz selvagem com propriedades medicinais) que a Di achou imensa graça ao nome e não parava de o repetir.
 Já há algum tempo que também eu tenho muito interesse por alimentação vegetariana e mais recentemente bastante curiosidade pela macrobiótica. Tenho o livro da Marta Varatojo, que recomendo vivamente e que tem servido de base para algumas inovações cá em casa. Mas também a mim o Francisco conseguiu surpreender com a panóplia de ingredientes, receitas variadas e partilha de conhecimento sobre as energias ying e yang, e a sua relação com os alimentos.
A nossa consulta acabou por ir muito além da alimentação: falámos de música porque o Francisco, durante a consulta, tinha uma banda sonora excelente a tocar numa rádio internacional; conversámos sobre os interesses da Di e ficámos a saber que a diretora da EDSAE e professora da Di, a Bibi Fernandes, também é uma grande praticante de alimentação macrobiótica o que surpreendeu e motivou a Di; o Francisco contou ainda à Di que desde pequeninos que todos seus filhos seguem este tipo de alimentação e que por isso ela é também acessível para as crianças.
Pela primeira vez a Di saía de uma consulta de nutrição feliz, motivada e inspirada com alguém que mostrou respeitar os seus gostos e conseguiu sempre apresentar-lhe alternativas mais saudáveis ao que ela dizia não conseguir deixar de comer. Já nós, os adultos, saímos rendidos à simplicidade, humildade e disponibilidade com que o Francisco se entregou à nossa família, partilhando todo o seu saber e mais do que isso, a sua visão de uma vida otimista e de uma mentalidade única de estar na vida.

Obrigada Joana por nos teres apresentado o Francisco!

Obrigada Francisco, por estas três deliciosas horas de partilha de sabedoria alimentar e de experiência pessoal que tanto nos inspiraram, e por termos encontrado alguém que verdadeiramente nos ajudou e orientou. A nossa próxima consulta seria em janeiro de 2018 e lamentavelmente não vai acontecer, porque o destino assim quis, mas as tuas palavras e o teu desejo de uma vida plena para a Diana ficarão para sempre gravados nos nossos corações.

Até já!



Pode também gostar

0 comentários

Publicações Populares

Subscreva