Regresso às aulas: desafios do 1.º ano
segunda-feira, setembro 11, 2017
O
1.º ano da Escola Primária, como gosto de continuar a chamá-lo, é uma
verdadeira aventura para todos os intervenientes: Alunos, Pais e Professores.
Todos
estão entusiasmadíssimos e cheios de expetativas! As crianças sentem-se
crescidas, pois agora vão para a escola a sério, onde irão aprender a ler, a
escrever e a fazer contas. Os pais anseiam pelo momento em que os seus filhos
aprenderão a ler e a escrever. Os professores estão de energias renovadas e
preparam tudo para acolher o novo grupo e começar um novo ciclo, dando
continuidade à sua missão, preparando materiais, planeando aulas e decorando a
sala.
As
redes sociais enchem-se de fotografias de crianças de mochilas às costas e, já
dentro da sala do 1.º ano, meninos e meninas esboçam enormes sorrisos que os
pais registam com as suas máquinas fotográficas. Se der para tirar uma
fotografia com a professora, ainda melhor! Fica registado mais um marco tão
importante na vida dos seus pequenotes, para colocarem no álbum da história da
família, e mais tarde recordarem. Está tudo a postos para começar o 1.º ano e todos
se sentem felizes!
Com
tanta alegria, entusiasmo e motivação, custa a acreditar que pouco depois de um
mês de aulas decorrido, o cenário possa muitas vezes ser bastante diferente do
esperado. Um fator determinante, e que pode contribuir profundamente para esta
situação, é a idade da criança. Por isso, antes de ingressar no 1.º ano é primordial,
que se assegure que a criança já tem idade e maturidade emocional suficientes para
ingressar no ensino formal, no qual vai permanecer durante doze anos.
As crianças que aprendem no
momento certo do seu desenvolvimento obtêm melhores resultados, pois não só
sentem um maior controlo no processo de aquisição, como a aprendizagem em si, é
muito mais agradável. Por
outro lado, as crianças que são adiantadas e se veem obrigadas a ter que
aprender mais depressa do que estão preparadas, sofrem muitas vezes de
ansiedade e não se sentem capazes, o que, a longo prazo, poderá ter impacto na
sua autoestima. No ensino há mais de uma década, o que tenho verificado é
que crianças com menos de 6 anos têm tudo a ganhar se ficarem mais um ano no
pré-escolar.
Para
além do fator idade, existem também algumas situações que poderão dificultar a
integração no 1.º ano, e que passo a descrever.
Crianças
que estavam habituadas a muita brincadeira e a poderem circular livremente pela
sala, vêem-se agora obrigadas a permanecer sentadas durante pelo menos 1h30
seguida. Devido aos currículos extensos, ouvem repetidas vezes que têm que aplicar-se
nos estudos e realizar tarefas, acabando por achar que afinal a escola não é tão
divertida como esperavam.
Por
outro lado, quando os pais vão buscar os seus filhos à escola, cheios de
vontade de saber como está a correr o 1.º ano, sufocam as crianças com
perguntas: Como foi o dia? O que aprenderam? O que é que aconteceu na escola?
Muitas vezes, perante as respostas monossilábicas, ficam desapontados e com
receio que a escola não esteja a ser como imaginaram. Quando chegam a casa
desdobram-se entre as tarefas que já tinham e uma nova: o acompanhamento nos
trabalhos para casa. E aqui muitas vezes começam os desentendimentos,
provocados pela hora tardia e o cansaço das crianças que não querem cooperar
nos seus deveres.
Os
professores, por seu lado, não têm mãos a medir com a gestão de comportamentos,
conteúdos para lecionar e reuniões sucessivas com pais que se sentem
defraudados, porque afinal o 1.º ano não é aquilo que esperavam.
Com
tudo isto, inicia-se muitas vezes um ciclo menos positivo em que todos se
sentem pressionados. As crianças começam a verbalizar que não querem ir para a
escola e manifestam comportamentos de oposição e desinteresse/resistência à
aprendizagem. Os pais sentem-se desorientados, sem saber o que fazer para as
crianças gostarem de ir para a escola e se empenharem nas tarefas da sala de
aula, e ficam ainda mais ansiosos relativamente à aprendizagem dos filhos começando
a culpabilizar o professor. Os professores ficam desmotivados, sentem-se
desencorajados e cansados com todas estas situações.
Então,
quando as primeiras semanas do 1.º ano não correm como era esperado, é altura
de LEMBRAR e ACEITAR que todos os intervenientes deste processo estão em adaptação a uma nova realidade. É
importante ter presente, que as adaptações
levam tempo e que é essencial que todos tenham PACIÊNCIA, principalmente
pais e professores, já que, se a criança tiver MOTIVAÇÃO INTERNA e sentir a
SEGURANÇA dos adultos de referência que a rodeiam, o caminho para uma adaptação
de sucesso fica muito mais facilitado. Este
tempo de adaptação, habitualmente ocorre durante todo o 1.º período, por
isso nada como ESPERAR e colocar a RESILIÊNCIA em prática, dando tempo para que
TODOS se adaptem a esta nova fase. Durante esta fase de adaptação, existem
algumas dicas que podem ajudar a superar os desafios que vão surgindo.
Dicas
para os pais:
R Definir
as suas intenções para a escolaridade dos seus filhos;
R Ter paciência
e confiar nas capacidades dos seus filhos;
R Transmitir
segurança aos seus filhos;
R Reunir
com o professor e partilhar as suas preocupações;
R Estabelecer
uma relação autêntica com o professor;
R Confiar
no professor;
R Esperar,
porque cada criança tem o seu tempo;
R Dar
espaço às crianças para poderem crescer, de acordo com o seu ritmo;
R Incentivar
a motivação interna dos seus filhos;
R Explicar
aos filhos que nada se consegue sem esforço;
R Atribuir
responsabilidade pessoal à criança.
Dicas
para os professores:
R Transmitir
aos alunos que a primeira lição que irão aprender é que devem ser felizes na
escola;
R Desenvolver
uma relação de afetividade com os seus alunos;
R Criar
uma relação autêntica com os alunos e com os pais;
R Estabelecer
empatia com os alunos;
R Reunir
com os pais e partilharem as suas preocupações;
R Solicitar
aos pais confiança no seu trabalho;
R Definir
estratégias conjuntas com os pais;
R Alternar
tempos de tarefas estruturadas com atividades lúdicas, jogos e artes (música,
pintura, plasticina…);
R Manter
o trabalho realizado em círculo, do ensino pré-escolar, para promover a
proximidade física com os alunos;
R Entender
que por detrás de um comportamento há sempre uma necessidade;
R Definir
limites em conjunto com os alunos, para que as aulas corram de forma tranquila
e eficaz.
Relativamente
a situações específicas de trabalhos de casa e avaliações, espera-se o bom
senso de ambas a partes. Caso existam, os trabalhos de casa devem ser curtos (a
criança não ter que despender mais de 1 hora para os resolver) e de resolução
autónoma por parte da criança, salvo projetos em família. Desde o início, é
importante que os pais compreendam que os trabalhos de casa devem ser da total
responsabilidade da criança e que devem apenas intervir se a criança precisar
de ajuda e a pedir, mostrando-se disponíveis e dando o seu apoio. Na maioria
dos casos, as pressões relacionadas com os trabalhos de casa surgem associadas
à quantidade, neste caso é importante falar-se com o professor e escutar a sua
opinião, ou quando os pais assumem esta tarefa como sua. Relativamente a este
último ponto, o que pode acontecer é que o seu filho nas primeiras vezes possa
esquecer-se de que havia trabalhos de casa ou mesmo que não os faça todos. E
está tudo bem! A existência destes momentos vão fazer parte do crescimento e da
aprendizagem dele e são necessários para que a sua RESPONSABILIDADE PESSOAL se
desenvolva. As crianças têm que passar
pelas situações para as conseguirem ultrapassar e se tornarem mais confiantes e
responsáveis. Claro que se for uma situação recorrente, poderá tentar ajudá-lo
com algumas estratégias tais como: assinalar num horário os dias dos trabalhos
de casa, arranjar um caderno específico só para os trabalhos de casa, marcar as
páginas do livro com um post-it colorido, escrever no topo das páginas do
manual a palavra TPC. No que respeita
às avaliações, quando existam, é importante que sejam encaradas de forma
tranquila, como um elemento intrínseco da aprendizagem, que serve para aferir a evolução dos alunos. Seja
por avaliações formais ou por outros métodos, é fundamental que acompanhe se o
seu filho está efetivamente a aprender, e demonstrar que o amor que sente por
ele é incondicional e não depende dos resultados escolares. Mais importante do
que as notas das avaliações, é a criança desenvolver o gosto por aprender e não
estar motivada apenas por prémios ou elogios por parte dos pais ou professores.
Para
concluir, é bom relembrar algumas ideias.
R Pais e
professores estão do mesmo lado, são da mesma equipa, e o que ambos mais
desejam é ajudar as crianças a crescerem felizes e saudáveis a todos os níveis;
R As
crianças não aprendem todas da mesma forma;
R Nas
situações difíceis respire fundo e relembre-se das suas intenções;
R Pode
pedir ajuda quando precisar dela;
R Todas
as crianças aprendem a ler e a escrever, cada uma ao seu ritmo;
R As
crianças que são pressionadas revelam maiores níveis de ansiedade, o que poderá
refletir-se, a longo prazo, na sua autoestima;
R Existem
muitas escolas e muitos métodos de ensino, pelo que, poderá sempre optar por
uma que vá mais ao encontro das particularidades do seu filho.
Entrar
no 1.º ano é sempre uma aventura! Espere o inesperado, abrace-o e aceite-o. Em
momentos de maior tensão, lembre-se das suas intenções e escolha
conscientemente que atitude vai tomar. Esta vai ser uma etapa fundamental para
que a criança ganhe gosto por aprender e se apaixone pela aprendizagem. Por
isso, faça com que este ano, que marca o início de um longo percurso escolar,
decorra de forma positiva, tendo sempre presente que o segredo é respeitar a
individualidade e as necessidades específicas de cada criança.
Até já!
Podemos ir à sua Escola ou à sua Empresa.
info: paisconscientescriancasfelizes@gmail.com
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