Pais e Filhos JUNTOS na busca das melhores soluções
terça-feira, julho 12, 2016
De acordo com as tabelas
pediátricas de percentis, a Di situou-se sempre num percentil de peso e altura muito
baixos, o que durante algum tempo me preocupou. Por conseguinte, na altura aconselhei-me
com o pediatra que me recomendou que ela praticasse natação.
Para mim também sempre
foi imprescindível que a Di soubesse nadar e, sendo a natação dos desportos
mais completos que existem, juntando a componente cardiorrespiratória a uma competência
desportiva que considero fundamental, concordei de imediato, seguindo a
recomendação à risca, quase como se fosse uma lei. Assim, quando a Di de vez em
quando perguntava quando é que podia sair da natação, eu, mantendo-me fiel à
minha crença, sempre respondi: aos
dezoito anos!
A acrescentar ao anteriormente
dito, a Di, raramente ficou constipada ou com alguma doença fazendo-me
acreditar na correlação direta com a milagrosa
natação.
Desde os três anos que a Di
esteve ininterruptamente na natação, situação que se manteve até há alguns
meses atrás. Presentemente, a Di está a caminho dos 11 anos.
Aos três anos, duas vezes
por semana durante períodos de 40 minutos, lá ia a Di nadar toda satisfeita, apesar
da confusão dos balneários e de ela verbalizar que a natação a cansava muito Ao
início ia com a escola e a partir do 1.º ano passei a ser eu a ir buscá-la à
escola e a levá-la à natação.
Com o passar do tempo o
entusiasmo esmoreceu, e nos dois últimos anos eram frequentes os comentários:
— Detesto a natação! Quando
é que posso sair da natação?
— Odeio a natação! É
mesmo obrigatório ir?
Eu, continuando
apologista da natação, repeti incansavelmente que a natação era fundamental e
utilizei os mais variados argumentos: que se queria fazer surf com o pai tinha
que saber nadar muito bem; que a natação fazia muito bem à saúde; que era importante
para poder nadar em segurança no mar ou em piscinas; que seria útil para fazer
mergulho ou snorkeling… E reforçava: a natação
é até aos dezoito anos!
Só que não tinha previsto
que cada vez que fosse buscar a Di à escola ela já estivesse aborrecida e
começasse a queixar-se que não queria ir à natação. Sempre que eu chegava à
escola a Di já estava triste, deprimida e a dizer que o seu dia tinha sido
maravilhoso até àquele momento mas que já sabia que iria terminar pessimamente
porque tinha natação. A situação agravou-se quando esta insatisfação começou
igualmente a estender-se à hora de a ir buscar à natação, pois verbalizava que
também não tinha gostado da aula e íamos todo o caminho para casa com a Di a
contar-me porque não gostava da natação, e comigo a encorajá-la a não desistir.
Achei que esta desmotivação passaria e dizia-lhe que da próxima vez já iria
gostar mais.
Acontece que o dia em que
ela supostamente iria gostar mais não chegou, e a Di chegou a dizer-me que eu
parecia que não estava a ouvi-la. E não estava mesmo.
As queixas ocasionais
sobre a natação passaram a ser constantes, sistemáticas e a originar alguns
conflitos e mau estar entre mim e a minha filha pois ela dizia-me que não
queria ir à natação e eu respondia-lhe que ela queria ir sim; ou seja, não
estava a respeitar a sua integridade e estava a promover a desconfiança, pois
não estava a saber ouvi-la.
Comecei a perceber que
estava a ser mais prejudicial insistir que ela fosse à natação do que se ela
não fosse. Além disso, houve dias em que situações do dia a dia, como testes ou
por exemplo um aniversário de um familiar, fizeram com que a Di não fosse à
natação, e a realidade é que nesses dias ela ficava radiante, chegando a
preferir estudar do que ir à natação, o que para a Di não é nada comum. Também
percebi que nesses dias, em vez da habitual tristeza, da irritação e até pouca
cooperação, tudo fluía naturalmente e a realidade é que se não fosse a Di a
mencionar frases como “Já viste mamã como
o dia hoje está a ser maravilhoso porque não há natação?“, confesso que nem
eu me lembrava que a natação existia. Por isso questionei-me: se nem eu me lembrava
da natação, é porque também eu privilegiava mais os tempos harmoniosos em família
do que a natação. Eu própria já associava a hora da natação à hora da discussão,
por isso o fato dos finais de dia serem tranquilos também a mim me sabia muito
bem.
Refleti e pensei que não
podia prolongar durante muito mais tempo esta situação e que o melhor seria
mesmo ACEITAR que naquele momento o melhor fosse a Di desistir da natação, e
entendi que o mais importante seria apoiar a sua decisão. Falámos e chegámos à
conclusão que para a Di era igualmente importante praticar desporto, mas que
gostaria de experimentar outra atividade sem ser a natação. Disse-me que não
estava feliz na natação e eu, ao OUVIR o que ela me estava a dizer, também me
senti triste, por até ao momento não a ter escutado e por não entender por que
razão eu havia insistido em que ela continuasse. Nesse mesmo dia, fomos até à
natação e preenchi o formulário de desistência.
Nas semanas seguintes
fizemos uma PAUSA e soube-nos muito bem às duas não ir à natação. Tínhamos mais
tempo para nós e não existiam conflitos. Depois conversámos sobre outras
possíveis atividades e chegámos à conclusão que talvez o yoga para crianças fosse uma boa opção.
Concordámos que as
atividades teriam a duração de um ano letivo e que no ano seguinte tudo estaria
em aberto. Assim, havia o compromisso de a Di permanecer na atividade escolhida
por ela durante esse ano mas, caso não gostasse, no ano seguinte poderia
escolher outra atividade.
Lamento não termos falado
há mais tempo e não termos encontrado esta solução mais cedo, mas sinto
COMPAIXÃO por mim e fico feliz por continuarmos
a caminhar juntas na busca de soluções que satisfaçam as necessidades de ambas.
A Di fez uma aula experimental
de yoga para crianças sem compromisso
e adorou. Quis logo inscrever-se, mas eu pedi-lhe que ponderasse e aguardasse para
perceber se era mesmo o que queria. Ao longo dessa semana, a Di confirmou que
não tinha dúvidas e que queria mesmo ir.
Inscrevi-a e neste
momento já vai em seis meses de aulas.
É tão bom RECONHECER a
felicidade da minha filha e poder vê-la radiante e a fazer uma coisa de que
gosta. Esta decisão foi igualmente boa para mim, pois enquanto ela pratica eu leio
durante uma hora, o que também me sabe muito bem depois de um dia de trabalho.
Ao contrário do que
acontecia com a natação, a Di vai motivada e é a primeira a querer ir para a
sua aula. Apesar do horário tardio, 18h30/19h30, vejo-a sempre com imensa
energia e vem sempre da aula renovada e muito bem-disposta. Esta alegria
estende-se a todos lá em casa e ninguém fica indiferente ao ver uma criança
feliz, e principalmente por saber que pôde contribuir para essa FELICIDADE.
E, se o dia de desistir
do yoga alguma vez chegar, sei que juntas
encontraremos a melhor solução.
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