Mamã, eu sou capaz!

segunda-feira, julho 04, 2016



Chego a casa, sem energia e ainda a recuperar de uma quase amigdalite que me apanhou desprevenida, quando ouço lá ao longe…
— Surpresa!!! Mamã estou a fazer a mudança das roupas, de inverno para as de verão.
Estarei a ouvir bem? Não tinha dado qualquer indicação nesse sentido e sei que esta tarefa para nós adultos já é aborrecida e trabalhosa, quanto mais para uma criança, por isso fiquei surpreendida com esta atitude e pensei, a Di está mesmo crescida. Pousei as malas e segui direta para o quarto dela.
Quando entrei ia-me dando um ataque; roupa espalhada no chão e por todo o quarto e a Di em cima do escadote toda animada a fazer a tarefa que me tinha anunciado. Pensei, teve uma ótima iniciativa em querer mudar a roupa, mas duvidei de imediato que ela levasse a tarefa até ao fim. Até eu me sentia desencorajada a olhar para aquele quarto e a última coisa que me apetecia fazer naquele dia era ir ajudá-la a arrumar todo aquele caos. Cansada e meia doente, mesmo assim acabei por perguntar:
— Queres ajuda?
— Não! MAMÃ, EU SOU CAPAZ!
Colocando em prática a Parentalidade Consciente, OUVINDO a minha filha e RESPEITANDO a minha necessidade de descansar retirei-me.
Descansei.
Quando voltei ao quarto da Di, sentia-me outra e vi que a quantidade de roupa desorganizada já era bem mais reduzida. Disse-lhe que me sentia feliz ao vê-la a ter RESPONSABILIDADE PESSOAL pela organização do seu quarto sem eu ter que dizer nada. Nessa altura, lembrei-me também da minha responsabilidade pessoal e em como, nessa semana, eu própria tinha sido relaxada com a roupa. Dirigi-me ao meu quarto, abri o armário e não pude deixar de me rir da pilha de roupa que tinha atirado displicentemente ao final de cada dia, e lembrei-me de alguns episódios que já tive com a Di, não muito conscientes, e lhe dizia:
— Como é que é possível despires-te e atirares a roupa para cima do puf? Ninguém faz isso!
E a Di respondia:
— Não percebes? Estou cansada! Tive escola e trabalhei muito.
E eu, sem a respeitar, disse muitas vezes:
— Não estás nada! Trabalhar, trabalhei eu o dia todo. Arruma a roupa!
E de repente pensei na generalização que tinha feito à minha filha “Ninguém faz isso” e disse a mim própria: “tu  fizeste isto!” Percebi então que ela não dizia aquilo para me irritar mas porque estava verdadeiramente cansada ou simplesmente não lhe apetecia, tal como nesta semana também não me tinha apetecido, a mim, arrumar a roupa assim que a despia. Tendo em conta o IGUAL VALOR, chamei a Di e mostrei-lhe o meu armário. Ela ficou boquiaberta mas não fez qualquer tipo de julgamento, o que para mim foi muito positivo. Abraçou-se a mim, riu-se e disse:
— Não faz mal, mamã!
 Sei que percebeu que eu também não sou perfeita e que não há mal nenhum nisso. Disse-lhe que tal como ela, também eu nesse dia iria organizar o meu armário. E assim fiz.
No final do dia, os nossos armários voltaram a estar organizados, e voltei a lembrar-me que na Parentalidade Consciente aprendi que, ao aceitar a minhas fraquezas e limitações perante a Di, também ela começa a aceitar e a partilhar com maior abertura as suas dificuldades. Senti também, que as intenções que coloquei na vivência deste tipo de Parentalidade estão a acontecer, a Di sente-se cada vez mais CONFIANTE e CAPAZ, começa a ter iniciativas autónomas sem precisar de mim e leva-as até ao fim porque acredita em si mesma e na sua capacidade de concretização. Também me valoriza mais e neste caso concreto disse-me que não sabia como é que eu conseguia fazer sozinha a mudança das roupas. Ela sentiu que dava muito trabalho e que demorava bastante tempo, mas sentia-se feliz por ter conseguido.
E eu, quando tenho dúvidas se ela vai conseguir, ESCUTO-A:
— MAMÃ, EU SOU CAPAZ!

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