Aprender brincando
terça-feira, outubro 18, 2016
É sabido que as crianças
precisam de brincar. Mas alguma vez pensou no ato de brincar como algo tão
importante como, por exemplo, aprender a ler e a escrever? O mais provável é
que a sua resposta seja não. Até pode achar que brincar é importante, mas tão
importante como aprender a ler e a escrever? Provavelmente pensará que isso já é
um exagero. Mas não!
Se formos à etimologia da
palavra brincar, tem origem latina e vem de vinculum,
que significa laço, e é derivada do verbo vincire
que significava prender, encantar… Mais tarde vinculum passa a “brinco” e origina o verbo “brincar” que significa
“divertir-se”. Portanto, e tal como se observa, quando a criança brinca
livremente, de forma não estruturada, sem a orientação de adultos, cria vínculos
ou laços com os seus pares, de forma lúdica, aprendendo enquanto se diverte.
A brincadeira livre,
enquanto tempo em que a criança brinca ao que que quer que seja, com quem
quiser e durante o tempo que lhe apetecer, sem qualquer instrução/orientação do
adulto, vai permitir-lhe desenvolver autonomia, socialização, conexão e estratégias
de resolução de problemas, de aplicação direta no seu dia a dia, tornando-as mais
flexíveis e melhor adaptadas às exigências da vida.
Na brincadeira livre as
crianças acabam por ter uma aprendizagem autêntica, pois ao brincarem umas com
as outras irão deparar-se com situações de competição, cooperação, conflito e stress, em que terão de aprender a
dominar emoções de medo, raiva e fúria, bem como praticar formas de entendimento
que lhes serão cruciais para crescer de forma eficaz e emocionalmente saudável.
Quando brinca, a criança quer
é estar com os seus pares e fazer com que a brincadeira dure o maior tempo
possível, portanto tem que estar com atenção plena ao que se está a passar à
sua volta, quer a nível de regras, quer ao estado emocional das restantes
crianças envolvidas na brincadeira, para evitar que existam desentendimentos que
façam com que alguém desista pois, se existirem várias crianças a desistir a
brincadeira termina. Para que isto não aconteça, a criança está constantemente
a treinar competências que a irá tornar mais apta e mais competente
socialmente.
Quando as crianças são
capazes de encontrar soluções para os seus próprios problemas e aprendem a
resolver as situações por si próprias, sem a interferência constante do adulto,
desenvolvem verdadeiramente a sua auto-estima e autoconfiança, pois não estão
dependentes da validação externa.
Assim, cabe aos pais promoverem
ao máximo tempo e espaço para a brincadeira livre ocorrer, dispensando
aparelhos eletrónicos e deixando de preencher quase todo o tempo livre dos seus
filhos com atividades estruturadas e dinamizadas por adultos. É essencial oferecerem
oportunidades para que a criança brinque sozinha, permitindo que utilize o
imaginário para processar vivências ou situações desafiantes do seu quotidiano.
É importante proporcionarem-se saídas na natureza onde as crianças possam explorar
e brincar à vontade e conceberem-se espaços dedicados às artes onde exista
material diversificado para que a criança possa, de forma espontânea, criar o
que quiser. É relevante existirem situações em que haja contato com crianças de
diferentes idades para que, umas com as outras, desenvolvam e aprendam a
importância da cooperação, do autocontrolo e da negociação.
A menos que seja
estritamente necessário intervirem, o papel dos pais deverá ser confiarem e atribuírem
responsabilidade pessoal aos seus filhos, dando-lhes espaço para que sejam capazes
de solucionar os obstáculos que lhes vão surgindo, tentando encontrar formas
novas de entendimento com os seus pares, que lhes permitirão desenvolver a
confiança em si mesmas. Assim, quando pensar em interferir ou defender o seu
filho de uma criança ou situação mais difícil, pense que lhe está a retirar uma
excelente oportunidade de ele testar as suas próprias capacidades e
competências, bem como de aprender formas de autocontrolo e práticas de negociação
com personalidades diferentes da sua.
A brincadeira livre é
portanto crucial no desenvolvimento de uma criança, pois é a forma natural que esta
tem de aprender a crescer enquanto aprende de forma lúdica e de igual para
igual, sem elogios e fatores externos, muitas das competências fundamentais
para uma vida feliz e com sucesso. A brincadeira livre tem muitos benefícios
dos quais destaco:
- aumento da auto-estima e autoconfiança;
- aprender a lidar com o stress;
- maior autocontrolo;
- maior gestão emocional;
- desenvolvimento de competências sociais;
- desenvolvimento da resiliência;
- maior capacidade de lidar com problemas;
- maior capacidade de encontrar soluções criativas e eficientes.
Face ao exposto, incentive os seus filhos a brincarem
muito, pois quando o fazem estão a aprender a sério, competências que nenhuma
outra atividade lhes vai permitir adquirir.
Desejo que todas as
crianças tenham pais conscientes que as deixem brincar muito!
Até já!
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